sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Narciso

- Quem é você?

- Eu sou você.

-Não, não é.

-Sou, sim. Não me reconhece? Ou melhor, não se reconhece?

-Não. Quem é você?

-Claro que você não me reconhece.

-Por que não reconheceria se você alega ser eu?

-Porque só Narciso se reconhece.

-Mesmo que você seja eu, não reconheço essa parte minha.

-Claro que não. Já conheceu alguém que esteja contente com seu próprio reflexo?

-Narciso.

-E veja como ele acabou...

-De qualquer jeito, que parte de mim é você?

-A mais verdadeira. Aquela que você tenta esconder de todos- até de você mesmo. Mas também é a parte que mais aparece.

-E essas marcas em meu rosto? Estou tão velho!

-Ora, não se faça de tolo. Elas são o que você mais gosta em você mesmo, pois mostram tudo aquilo que você já viveu. Você deveria se preocupar mesmo era com as marcas em sua alma.

-Ora, você é apenas um espelho. Não reflete as feridas que trago na minha alma, logo as pessoas não veem o que trago dentro de mim.

-Não seja tão idiota, essas são as mais claras de se ver. Pois foram elas que definiram a pessoa que vocÊ é hoje. E todos sabem disso.

Ouve-se o som de vidro sendo quebrado e vê-se sangue pingando no piso branco.

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