Ir ao circo era como voltar as origens pra ele, todas aquelas máscaras e maquiagem que impediam o espectador de ver como aqueles artistas realmente eram simbolizava exatamente o tipo de vida que ele levava.
Ele conseguia se relacionar com o falso sorriso pintado no rosto do palhaço que não deixava transparecer quão frustrado por se sentir preso naquela pequena comunidade mesmo passando por tantos lugares diferentes; ao mesmo tempo a pequena lágrima escorrendo pelo rosto do palhaço fazia com que ele lembrasse quantas vezes havia derramado lágrimas tão falsas quanto aquela que por ora enfeitava o rosto do palhaço.
Ele projetava no número de dança da bailarina as opções que ele teve que deixar pra trás enquanto crescia, cada acrobacia o lembrava de como era doído colocar a razão na frente da emoção cada vez que devia escolher entre seus sonhos e os caminhos que haviam sido pré-traçados para ele.
O mágico lhe fazia pensar no quanto sentia falta de espontaneidade em seu dia-a-dia, de como havia perdido a habilidade de sentir prazer nos pequenos prazeres que tanto apreciava enquanto crescia e quão artificial e previsível a sua vida tinha se tornado.
E assim ele vivia aquelas duas horas de espetáculo, através de cada artista que passava pelo picadeiro ele fantasiava sobre realidades alternativas para sua própria vida enquanto se deliciava com a delicadeza e as sutilezas em cada apresentação.
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