domingo, 18 de abril de 2010

Preenchendo Vazios

Ele viveu toda a sua vida com esse buraco, um buraco que era preenchido com tudo aquilo que ele não conseguia falar sobre as coisas que ele passava, quer queira fossem boas ou não. Ele não conseguia falar por não achar que valesse a pena deixar as pessoas saberem o que se passava com ele, ele não se achava tão relevante a ponto de achar que o outro fosse ter interesse no que acontecia em sua vida, ele não achava sua própria vida tão interessante.

Suas escolhas eram sempre seguidas por uma dúvida a respeito do caminho escolhido para fazer as coisas e, por mais que ele tentasse se convencer de que havia escolhido determinado caminho, sempre ficava com a sensação de jamais ter feito a escolha correta, a mais apropriada ou a mais satisfatória; ele se sentia perdido e sozinho demais para pesar possibilidades e tomar decisões por conta própria e é por isso que ele se mantinha calado e recluso em relação às suas experiências. E assim o vazio dentro dele ia sendo preenchido com tudo aquilo que ficava a ser dito ou feito, e isso o afastava ainda mais do contato humano com aqueles que lhe eram caros.

Sua infância foi dolorosa demais para que ele pudesse falar dela agora abertamente, haviam traumas demais, feridas abertas demais, assuntos inacabados demais para que ele fosse capaz de olhar para trás e perceber as coisas que o levaram até onde se encontrava naquele ponto com clareza. Ele sabia que suas relações eram moldadas pelos conceitos que lhe foram passados enquanto era apenas uma criança; e por mais que hoje em dia ele fosse capaz de superar alguns desses conceitos e ir contra eles, ele jamais foi capaz de realmente deixá-los no passado e começar uma nova forma de se relacionar.

Ele não sabia mais que direção seguir, os caminhos longos e cheios de percalços não pareciam valer a pena, os atalhos e suas facilidades não pareciam fazer tanto sentido e as encruzilhadas sempre pareciam dar em um fim inesperado. Por tudo isso ele se encontrava em sua atual posição desconfortável e conturbada, por isso também ele resolveu que não era mais válido seguir uma vida cheia de interrogações e reticências; e então do alto daquele prédio comercial ele resolveu encerrar uma existência insignificante e destoante.

E foi assim que seu vazio foi preenchido.

domingo, 11 de abril de 2010

Divagações

Quem pode prometer amor eterno, quando tudo o que se tem é o agora?

Pode fazer todo o sentido do mundo quando se está com alguém e você se imagina ao lado dessa pessoa pelo resto de sua vida e os sentimentos que você sente por ela parecem querer sair de dentro de você para explodir em uma demostração inesgotável de afeto, mas quem pode garantir que amanhã você não vai acordar e desconhecer por completo aquele que na noite anterior parecia o ser que lhe completava de corpo e alma?

Quem é tão dono de si para afirmar categoricamente que é capaz de passar a vida inteira ao lado de uma só pessoa e não sentir o minimo de dúvida a respeito do que a vida lá fora poderia ter lhe reservado se você estivesse mais aberto ao desconhecido?

E estando com o amor de sua vida, como saber com certeza que o seu empenho em manter a relação é algo espontâneo e verdadeiro, ao invés de uma tentativa deseperada de não terminar seus dias sozinho em uma cama grande e vazia, só porque você chegou a uma certa idade na qual estar sozinho significa que você fez as escolhas erradas quando teve suas chances?

Por pensar em tudo isso hoje em dia questiono se o meu amor por você é mesmo tudo isso que jurei um dia, e se devo ignorar meus instintos que por ora me dizem para me manter afastado de você e seguir me vida, ou devo reatar os nossos laços e mais uma vez dar uma chance a alguém que já não parece mais tão válido assim- especialmente depois daquela cena ridicula que protagonizamos na última quinta-feira.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Como Faz?

O que fazer quando todas as suas lágrimas parecem ter sido derramadas e apenas uma desconfortável aridez restou em seus olhos?

O que fazer quando livros, músicas e filmes não são mais percebidos como a expressão de tudo aquilo que você sentia e não conseguia colocar para fora?

O que fazer quando suas relações sociais perderam todo o sentido e você só deseja permanecer isolado do resto da humanidade e torcer para que todos se esqueçam que você algum dia já existiu?

O que fazer quando o ar que você respira não parece mais ser suficiente para te manter vivo?

O que fazer quando todas as suas verdades mais absolutas são questionadas pelas dúvidas mais básicas?

O que fazer quando nada mais faz sentido?