quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Oh, Criador

Enquanto os pássaros cantavam nas árvores, as crianças voltavam das escolas, carros e motos passavam apressados embaixo de sua janela ele apenas vislumbrava os passos que o haviam levado até ali; como era fácil se deixar levar por gestos passionais e inconsequentes, mas tampouco era difícil fazer se passar por duro e racional quando lhe coubesse. Ele havia vivido uma vida inteira de mentiras e fingimentos, pronunciava palavras como se elas realmente significassem algo além de representações limitadas - e limitantes -, distribuia carinhos com a mesma capacidade com que destilava seu veneno sobre aqueles que insistiam em cruzar seu caminho. Levava uma vida pública decente e satisfatória ao mesmo tempo em que na sua privacidade cometia os mais sórdidos pecados contra si mesmo e aqueles que jurava amar.

Enquanto o Sol se posicionava no ponto mais alto do céu, os vizinhos se ocupavam de sua tarefas corriqueiras, o rádio tocava a mesma música pela décima vez na mesma manhã ele continuava a dar prosseguimento a sua existência translúcida até que não mais se fizesse necessário.

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