quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A Mudança

Certo dia ele decidiu que iria se retirar das discussões. Simples assim, resolveu se anular em favor de uma convivência mais amigável com aqueles que o cercavam.

A partir de então sempre que perguntado sobre um assunto preferia apenas repetir a opinião alheia a expôr seu verdadeiro ponto-de-vista. Se alguém pedisse para que fizesse uma abordagem pessoal sobre algum tema ele nunca saia da superficie do, pairando levemente por um determinado espaço de tempo até que achasse que tinha falado o suficiente.

E por algum tempo sua nova estratégia de convívio deu certo. Ele não estava mais o tempo todo em confronto direto com o outro, as pessoas passaram a aceitá-lo em seus círculos de amizade com mais facilidade, sua reputação mudou e agora ele era até encorajado a falar o que "pensava" sobre todos os assuntos que estavam sendo discutidos.

Mas então eis que ele mesmo começou a perceber que estava se tormando uma pessoa apática, distante e irreconhecível. Tudo o que ele sempre defendeu com tanta paixão tempos atrás parecia agora voltar para cobrar dele algum tipo de explicação pela mudança de atitude. E ele estava abatido demais para confrontar essas duas realidades tão diferentes: a defesa de suas próprias convicções contra a sensação de pertencimento que as "suas" novas ideias lhe permitia.

E por um longo tempo ele se anulou e conseguiu existir com essa dualidade dentro de si. Até que ele foi lentamente desaparecendo e as pessoas jamais perceberam pois ele agora era apenas mais um entre suas amizades e conhecidos e não era merecedor de tanta atenção quanto seria necessário para alguém notar que ele já não era mais aquela pessoa apaixonada e combativa de outrora.

E então ele simplesmente desvaneceu em uma nuvem de desilusões pessoais e esquecimento coletivo.

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