Afirmar que o outro "já tinha chegado tão longe" era algo fácil de fazer,
difícil mesmo era sentir que não havia saído um centímetro do mesmo lugar onde sempre estivera, que toda a sua vida tinha sido uma grande sucessão de acasos e fatos alheios ao seu controle. Olhar para trás e constatar que nada realizou, encarar o presente e não sentir orgulho do que se tem e, acima de tudo, tentar imaginar um futuro e não ver nada além de possibilidades obscurecidas pela sua própria incapacidade.
E então viver não era mais do que um constante exercício de paciência e caridade, no qual ceder era a palavra de ordem e questionar parecia uma agressão impensável.
"Você é capaz de tudo" dizem eles,
mal sabendo que o tudo não era o seu objetivo, antes preferia ser o nada, se o nada trouxesse algum tipo de alívio ao que era viver. Sabia ser possível a vida no nada, quantas pessoas conhecia nessa situação..., mas nem mesmo no nada parecia caber. Então passava a vida se escondendo atrás de promessas e compromissos que sabia não ser capaz de cumprir, mas os fazia por pura conveniência.
E então, por um breve momento, viver era mais do que um constante exercício de paciência e caridade, no qual ceder era a palavra de ordem e questionar parecia uma agressão impensável.
"O seu destino é você quem faz",
quantas vezes ouvira e chegara mesmo a acreditar na frase, para logo em seguida ser confrontado com a insustentabilidade de suas escolhas pessoais e mais uma vez cair nas armadilhas coletivas que faziam com que voltasse às velhas práticas.
Então um dia resolveu se projetar rumo ao desconhecido e assim se tornar imperecível.
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