domingo, 27 de dezembro de 2009

O Vira- Lata

Eu nunca tinha parado para notá-lo- ou qualquer outro em questão- pois sempre achei que eles eram superficiais e estúpidos. Aquele tipo de pessoa que parece ser uma versão de algo perdido, e está perdido há tanto tempo que eles nem mesmo lembram mais o que estão simulando, e eu sempre achei isso realmente triste- eu não era inocente suficiente para achar que eu fosse algo especial ou original, mas a nossa diferença é que eu estava ciente disso o tempo todo.

- Oi, posso me sentar aqui com você?

Fui pego de surpresa pela pergunta.

- O que? Ahn?

Ele olhou para a cadeira ao meu lado que estava vazia, só então eu entendi.

- Ah sim! desculpe. Fique à vontade.

Eu continuei lendo meu livro e ouvindo Norah Jones, mas podia sentir seus olhos me encarando sem dizer nada.

- Você não sabe que é rude encarar?

Ele retribuiu com um pequeno sorriso.

- Eh... bem... o problema é que não sei exatamente como falar com você...

Aquilo me deixou um pouco perturbado, que motivo teria alguém como ele para falar comigo.

- Então, por que você iria querer falar comigo em primeiro lugar?

Pela primeira vez eu olhei atentamente para ele, algo parecia fora de contexto, como se toda sua atitude anterior estivesse aos poucos desaparacendo e dando lugar a uma insegurança e finalmente algo verdadeiro.

- Eu não sei... Te vejo todo dia sentado aqui sozinho e mesmo assim não me parece triste.

Aquela conversa estava realmente me deixando intrigado.

- Então você me observa todo dia, isso não é meio esquisito?

- Pra falar a verdade não acho.

- Não?

Ele podia tentar disfarçar mas sabia que aquilo não era algo normal de se fazer, ainda mais pra alguém como ele que estava acostumado a ser o centro das atenções e não ter que chamar a atenção dos outros.

Os instantes seguintes foram de um silêncio constrangedor que eu não estava a fim de quebrar, pois não via razão boa o suficiente para tal esforço. Então voltei a leitura de meu livro, mas não pude ir muito além pois a simples presença de alguém olhando por cima de meu ombro era algo por demais desconfortável.

- Então...

Lancei um olhar desafiador na esperança de que ele falasse algo que pudesse iniciar uma conversa, ou que pelo menos ele fosse embora de uma vez.

- Então...

Foi tudo o que consegui dele.

- Homem de poucas palavras ou a vida nunca precisou que você falasse muito mesmo?

Havia perdido minha paciência e estava a fim de mandá-lo embora o mais rápido possível. Ele, por outro lado, não parecia disposto a sair dali.

continua...

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