quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Invencível

- Obrigado por me tornar invencível. murmurou ele, com um sorriso vermelho de satisfação nos lábios, para o homem perplexo que tentava em vão ajudá-lo em seus últimos momentos.

Fazia um dia típico de verão, o Sol estava imponente no Céu de meio-dia e o ônibus lembrava o Inferno de tão quente. Finalmente chegava em sua parada e poderia conseguir um pouco de ar fresco, até chegar em casa e tomar um banho. Vinha escutando sua música sem maiores preocupações e sem prestar muita atenção naqueles que o cercavam, só olhava de relance vez ou outra para as duas amigas que conversavam atrás dele no ônibus.

Não tinha planos específicos para aquele dia, apenas chegaria em casa e faria seu ritual diário de tomar banho, almoçar, dormir e quem sabe ver tv ou passar o resto do dia na frente do computador. Não estava também a fim da companhia de terceiros e nem mesmo a sua própria companhia o agradava muito, contudo não se podia dizer que estava deprimido ou coisa parecida; apenas se encontrava entediado e cansado demais para fazer esforços de qualquer natureza.

Percebeu que seu ponto era o próximo e deu sinal puxando a cordinha. Já estava de pé três pontos antes do seu, não por ansiedade ou expectativa de sair de dentro do ônibus mas antes por ter ficado tempo demais- segundo ele mesmo- sentado no seu assento; continuava olhando para os lados sem prestar muita atenção ao que o rodeava, as meninas não mais se encontravam dentro do ônibus e a música parecia começar a perder o interesse, ele fez menção de tirar o mp4 do bolso e trocá-la mas mudou de ideia e resolveu terminar de ouvir o cd que tocava. Viu passar o bar que costumava frequentar e nele percebeu antigos amigos de bar, mas nem assim sentiu algo diferente nem nostalgia nem vergonha, nada simplesmente constatou o fato de que aquele lugar lhe trazia lembranças...

Viu que o ônibus começava a parar e essa era sua deixa para se encaminhar para perto da porta. Fez tudo como manda o figurino: parou em frente a porta, olhou para o cobrador, percebeu a retribuição do olhar, tornou a olhar para a porta, olhou a porta abrir, esperou o ônibus parar totalmente e, finalmente, desceu a passos lentos e esperou o ônibus seguir seu caminho para que pudesse seguir o seu; todo esse processo não demorou mais do que 1 minuto.

Com seu fone no ouvido se pôs a atravessar a avenida, sentiu uma lufada de um ar bastante quente e desejou ainda estar dentro do ônibus, avistou pessoas seguindo com suas vidas sem prestar muita atenção nele e sentiu algum alivio com isso, estava a meio caminho de chegar no canteiro que dividia as duas mãos da avenida.

Um comerciante saia de sua venda para receber os produtos que haviam acabado de chegar em uma caminhonete corriqueira, o motorista da caminhonete não via a hora de descarregar os mantimentos e fazer a parada de 1 hora para o almoço, em sua ânsia não se preocupou em perceber que bloqueava completamente a visão de quem entrava na avenida por uma das ruas que cortavam a avenida. Nesse mesmo instante um pai de familia apressado saía de casa em seu carro para buscar seus filhos na escola; sem se preocupar demais com as regras de trânsito ele entrou sem maiores precauções na avenida, e foi nesse momento que seu destino se cruzou com o do menino.

O menino foi atirado de volta para a calçada de onde havia partido quando saltou do ônibus. o pai de familia acabou no meio fio que dividia as duas mãos da avenida. O comerciante correu para dentro de seu estabelecimento a fim de chamar seus empregados para ver a cena. E o vendedor dos produtos não teve reação alguma além de largar as melancias que carregava e levar as mãos aos próprios olhos.

E foi assim que o menino se tornou invencível. Para todo o sempre invencível.

Um comentário:

  1. Fantástica essa crônica-relato pessoal...

    Adoro quando você me surpreende assim...hohoho

    Beijos do Alex

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